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Seminário da ABMES aponta caminhos para alinhar formação acadêmica e mercado de trabalho

03/09/2025 | Por: ABMES | 1051
Foto: Felipe Pierre/ABMES Foto: Felipe Pierre/ABMES

Em um cenário em que o mercado de trabalho exige profissionais cada vez mais preparados e adaptáveis, a Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) promoveu, nesta terça-feira (2), o seminário “Educação 5.0: Soft Skills, novos currículos e sucesso profissional”. 

O encontro apresentou a 4ª edição do Indicador ABMES/Symplicity de Empregabilidade (IASE) e contou com a participação do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep); da empresa de tecnologia educacional Pearson e da consultoria em inovação e desenvolvimento humano Ideasense, que trouxeram contribuições sobre currículos flexíveis, micro certificações e o papel das universidades inteligentes na formação de egressos mais empregáveis.

O presidente do Conselho de Administração da ABMES e conselheiro do CNE, Celso Niskier, destacou que o IASE é uma iniciativa pioneira que coloca a empregabilidade no centro da agenda do ensino superior. Para ele, o indicador se tornou uma ferramenta essencial para que as instituições tomem decisões com base em evidências, fortalecendo a credibilidade do setor privado junto à sociedade e às políticas públicas. 

A vice-presidente da ABMES, Beatriz Eckert-Hoff, que mediou o debate do auditório da Associação, reforçou que a empregabilidade não pode ser vista apenas como uma estatística, mas como responsabilidade compartilhada entre governo, instituições e sociedade, lembrando que o papel da Associação é justamente criar espaços que permitam às instituições de ensino superior (IES) refletirem sobre caminhos concretos para apoiar seus egressos. “As instituições de ensino superior precisam se abrir cada vez mais à inovação curricular e a práticas que conectem o estudante com o mundo”, ponderou.

IASE e Inep
O diretor de Avaliação da Educação Superior do Inep, Ulysses Teixeira, ressaltou que os dados coletados pelo IASE têm se tornado referência para o aprimoramento das políticas públicas e da regulação. Ele anunciou que, a partir de 2026, terá início um novo ciclo de avaliações in loco, que cobrirá todos os cursos e instituições em três anos e trará um olhar específico para empregabilidade e acompanhamento do egresso. “Tudo que a gente mostrou aqui parece apontar para algo importante: precisamos acompanhar de perto a trajetória dos egressos. Esse será um dado cada vez mais presente na regulação e nas políticas públicas de educação superior”, afirmou.

Outra novidade foi a construção de um painel interativo de indicadores, que substituirá os relatórios em PDF e permitirá às IES cruzar informações e realizar análises de forma mais dinâmica. Segundo Teixeira, a ideia é que, já na próxima divulgação do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), seja possível apresentar um sistema que permita múltiplos cruzamentos de dados e dê muito mais condições de gestão às instituições. 

Ele também antecipou que os conceitos do Enade passarão a ter critérios absolutos de desempenho, deixando de se basear apenas em comparações relativas com a média nacional, mudança que virá acompanhada da futura Prova Nacional Docente, ampliando a visão sobre a qualidade tanto da formação discente quanto da atuação dos professores. Ulysses ainda fez um alerta sobre o uso da renda como métrica isolada, lembrando que o indicador pode adquirir um peso desproporcional frente a outros aspectos formativos e deve ser usado como instrumento de gestão institucional, não como critério único de avaliação.

Na sequência, o gerente nacional da Symplicity, Gabriel Custódio, detalhou os principais resultados do indicador de 2025. Segundo ele, a conclusão da graduação tem forte impacto na renda e na empregabilidade, mas também expõe desigualdades estruturais. Ele enfatizou que o IASE é uma ferramenta estratégica para as instituições ajustarem currículos, fortalecerem parcerias e oferecerem ao estudante um percurso formativo mais conectado ao mundo do trabalho.

Custódio destacou que o IASE permite calcular o payback da educação superior, ou seja, em quanto tempo o investimento do aluno no curso se paga por meio do aumento de renda após a formatura. “A formação continua sendo um investimento que traz retorno financeiro concreto. O IASE mostra que o curso superior não apenas amplia as oportunidades de inserção, mas compensa o esforço feito pelo estudante e por sua família”, afirmou. 

Ele também chamou atenção para a importância do apoio institucional, explicando que, quando há suporte efetivo das IES, as diferenças salariais e de empregabilidade entre homens e mulheres diminuem, além de reforçar que o acompanhamento próximo do egresso e a interlocução ativa com o mercado são diferenciais estratégicos.

O representante da Symplicity ressaltou ainda a trajetória do IASE e a crescente participação das instituições, lembrando que o indicador nasceu pequeno, mas se tornou uma referência nacional porque as IES compreenderam a importância de medir de forma contínua os resultados da formação. Quanto maior a adesão, mais robustos e confiáveis são os dados e mais impacto é possível gerar no debate público. 

Educação 5.0
Na segunda parte do seminário, a Pearson trouxe reflexões sobre como a Educação 5.0 pode apoiar gestores de IES na tarefa de alinhar currículos às transformações do mercado de trabalho. A diretora de Higher Education para a América Latina da empresa, Heloisa Avilez, reforçou que o ensino superior continua sendo a principal via de inserção profissional, mas precisa ser complementado por estratégias inovadoras. 

Pesquisas como o Pearson Skills Outlook e relatórios do Fórum Econômico Mundial mostram a urgência de integrar soft skills, micro certificações, internacionalização e personalização ao percurso formativo. Para Heloisa, as certificações de menor duração e o microlearning oferecem atualização rápida, ajudam a diferenciar currículos e garantem que o egresso esteja pronto para enfrentar contextos globais e locais.

Já Alexandre Gracioso, vice-presidente acadêmico da Ideasense e consultor da Pearson, reforçou que gestores precisam adotar uma visão de longo prazo sobre competências. Ele apresentou o conceito de Empregabilidade 5.0, apoiado em quatro pilares: soft skills, literacia digital, foco em problemas reais e competências verdes. “O desenvolvimento contínuo de novas competências é o único caminho para que nossos estudantes mantenham relevância ao longo de carreiras cada vez mais longas. Empregabilidade 5.0 significa preparar profissionais para problemas reais, com resiliência, pensamento crítico e visão sustentável”, explicou. 

Gracioso também defendeu a construção do que chamou de “universidades inteligentes”, que combinam gestão baseada em evidências, flexibilidade curricular, internacionalização e integração com o mercado de trabalho. Para gestores, essa visão se traduz em currículos mais ágeis, capazes de oferecer experiências diferenciadas e alinhadas às demandas sociais e econômicas.

O seminário fez parte da programação especial desta terça-feira que, pela manhã, contou com o seminário “Cybersecurity: desafios, boas práticas e estratégias para a proteção de dados nas IES”.