Os universitários desejam manter o sonho do ensino superior, apesar do contexto pandêmico e econômico, e preferem voltar às atividades presenciais priorizando as aulas práticas. Segundo a pesquisa “Observatório da Educação Superior: análise dos desafios para 2021 – 4ª edição”, 55% dos entrevistados preferem o retorno parcial da presencialidade, com aulas em alguns dias da semana e a manutenção do ensino remoto nos demais. O levantamento foi realizado pela empresa de pesquisas educacionais Educa Insights em parceria com a Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES).
Os dados foram apresentados no seminário virtual “Retorno às aulas presenciais: o que querem os alunos”, nesta terça-feira (10), com a participação de Daniel Steigleder, sócio diretor da Educa Insights; Sólon Caldas, diretor executivo da ABMES, e coordenação do diretor presidente da Associação, Celso Niskier.
Volta gradual e híbrida
De acordo com o levantamento inédito, entre os jovens que optam pelo ensino híbrido, 52% afirmam que a prioridade nas atividades em sala deve ser as aulas práticas e 38% responderam que todas as disciplinas deveriam participar do ensino híbrido (Figura 1). Levando em consideração quem se vacinou contra a Covid-19, pelo menos com a primeira dose, 43% considera que todas as aulas podem ser escalonadas e 47% consideram que apenas as práticas devem fazer parte do cronograma. No grupo que ainda não foi imunizado, esses percentuais são de 34% e 56%, respectivamente.
“A maioria dos estudantes entrevistados deseja manter os benefícios das aulas remotas na volta gradual às atividades presenciais. Estamos assistindo o nascimento de um modelo mais flexível de educação, mediada por tecnologia”, avalia o diretor presidente da ABMES, Celso Niskier.
Figura 1 – Relação de preferência no retorno às atividades presenciais
Ao todo, 84% afirmam que renovarão a matrícula para o segundo semestre de 2021, 15% tem interesse em continuar os estudos, porém não têm certeza se fará a rematrícula e 1% declararam que não continuarão. O principal motivo foi a perda de renda, declarado pela metade dos entrevistados, sendo 37% que tiveram emprego diretamente impactado pela pandemia e 13% afirmaram que os responsáveis não conseguirão manter o pagamento em dia. Outros motivos foram o medo de contaminação (23%), a queda na qualidade do ensino na migração das aulas presenciais para remotas (19%) e falta de adaptação aos protocolos sanitários (8%).
“Acho que o gestor educacional terá um grande desafio ao aproveitar tudo o que aprendeu na pandemia no desenho metodológico dos seus projetos a partir de agora. E o aluno está sinalizando o desejo dessa flexibilidade e também que as instituições precisarão continuar flexibilizando as formas de pagamento e oferecendo descontos para reter e captar estudantes por mais um tempo. Acreditamos que continue assim em 2022 em função da lentidão com que nós estamos saindo da crise econômica”, comenta Niskier.
Sobre o contexto econômico, o diretor executivo, Sólon Caldas, ponderou o momento atual. “Nós tivemos um esvaziamento muito grande do Fies, estamos com o ProUni comprometido por conta da proposta de reforma tributária, mas as IES ficaram firmes no seu papel de contribuir com a educação neste País e dar o incentivo para que esses alunos pudessem ficar matriculados”, disse.
Benefícios e vacinação
As instituições de ensino superior (IES) têm oferecido soluções para que os alunos continuem o curso de graduação. Segundo o levantamento, 76% dos estudantes receberam algum benefício para rematrícula, como desconto por antecipação da semestralidade (49%), financiamento ou parcelamento (18%), seguro educacional (6%) e curso livre ou de curta duração (3%).
Niskier comenta sobre o posicionamento das IES. “As instituições flexibilizaram seus pagamentos e ofereceram descontos para reter os seus estudantes. Esse movimento deverá continuar até 2022, como forma de mitigar os efeitos danosos da crise econômica decorrente da pandemia”, ponta.
E Sólon Caldas complementa. “Mesmo os alunos que já tomaram pelo menos a primeira dose da vacina preferem o ensino híbrido. Eles puderam experimentar fazer uma aula teórica no conforto de suas casas – não perdendo tempo com deslocamento, economizando de uma certa forma -, síncrona, com a interação, a participação do professor. E as aulas práticas vão ficar com aquelas disciplinas que essencialmente necessitam da presencialidade. Podemos ver isso muito claro na pesquisa”.
Sobre os cenários da educação superior no futuro, Daniel Steigleder, sócio diretor da Educa Insights, avalia que a pandemia deixará um legado importante para as IES que investiram em tecnologia. “Quando se fala em cenários para o futuro, vejo que haverá a união do melhor dos dois mundos. A presencialidade é fundamental, sem dúvida ajuda na formação dos alunos, e isso nunca vai deixar de existir. Mas hoje nós temos as IES muito melhor preparadas em termos tecnológicos para conseguir com que as aulas não presenciais tenham qualidade de mesmo nível. E o aluno hoje já prefere esse cenário mais híbrido, essa flexibilidade”.
Observatório da Educação Superior
O levantamento “Observatório da Educação Superior: análise dos desafios para 2021 – 4ª edição” foi realizado pela ABMES em parceria com a Educa Insights entre 28 de julho e 4 de agosto, via internet. Foram consultados 668 homens e mulheres que estão matriculados em cursos presenciais, em instituições particulares de ensino superior, em todas as regiões brasileiras.
A três edições anteriores do “Observatório da Educação Superior: análise dos desafios para 2021” foram divulgadas em fevereiro, abril e junho, quando foram consultadas pouco mais de 3 mil pessoas que desejam ingressar no ensino superior. Ao longo de 2020, foram realizadas cinco pesquisas, consultando 4.490 alunos de graduação, matriculados em cursos presenciais ou EAD de instituições particulares há pelo menos 6 meses e potenciais alunos que tenham interesse de iniciar cursos de graduação presencial ou EAD em faculdades privadas nos próximos 18 meses.
Prêmio Top Educacional Professor Mário Palmério
Além da apresentação da pesquisa, o evento contou também com a solenidade de entrega do 24º Prêmio Top Educacional Professor Mário Palmério ao vencedor, projeto “Eight: Aprendendo de forma criativa e passando adiante em oito minutos”, da Universidade de Brasília (UnB).
O momento foi comandado pela vice-presidente da ABMES, Débora Guerra, que conversou com os coordenadores do projeto vencedor e daqueles que receberam menção honrosa. O professor Edson Franco, membro da Comissão Julgadora do Prêmio Top Educacional e membro nato do Conselho de Administração da ABMES, contou um pouco da história do professor Mário Palmério e falou sobre a relevância da premiação.
Sobre o prêmio
Criado em 1992 e realizado a cada dois anos, o Prêmio Top Educacional Professor Mário Palmério busca identificar e divulgar ações inovadoras no campo da educação nas áreas de ensino, inovação científica/pesquisa, extensão, avaliação institucional, processo de gestão, inclusão social, sustentabilidade e ação criativa educacional relevante. Na edição anterior, em 2018, o projeto “Narizes de Plantão”, do Centro Universitário São Camilo/SP, foi o grande vencedor.
As IES participantes concorrem a um prêmio em dinheiro no valor bruto de R$ 15 mil. Para participar foi preciso ter vínculo institucional com alguma IES, pública ou particular, associada ou não à ABMES. Além do prêmio em dinheiro, a Associação destina uma edição anual do ABMES Cadernos à publicação dos artigos assinados pelos coordenadores das propostas vencedoras. Por meio dessas publicações, as ações ganham visibilidade nas demais IES do Brasil e do exterior.
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