Detalhe

Indefinição nas públicas e modelo híbrido nas particulares: a volta às aulas presenciais no ensino superior

20/07/2021 | Por: Gazeta do Povo | 4358
Foto: Reprodução/Gazeta do Povo

Com o avanço da vacinação contra a Covid-19, principalmente dos profissionais de educação, o ensino superior começa a ensaiar a volta às aulas presenciais em modelo híbrido. Parte dos alunos acompanha as aulas presencialmente e a outra parte ainda de maneira remota.

Estados como São Paulo, Ceará e Mato Grosso já autorizaram o retorno presencial das faculdades e universidades, e instituições de outros estados – boa parte atualmente em recesso – aguardam que as autoridades locais flexibilizem a permissão para a retomada. O objetivo de muitas é conseguir iniciar, de forma gradual, no sistema híbrido no segundo semestre.

Cursos com alta demanda por atividades práticas, como nas áreas de saúde e engenharias, já têm aulas presenciais em grande parte das instituições de ensino desde o ano passado. Mas é esperado, a partir de agora, uma flexibilização maior e a permissão para a volta às aulas presenciais nas demais graduações.

“Para esse segundo semestre podemos esperar uma ampliação significativa das instituições de ensino superior para o modelo híbrido, principalmente as particulares. A decisão desses governos, de liberar a volta às aulas presenciais, é acertada e vai ao encontro do que está acontecendo em outros países”, diz Sólon Caldas, diretor-executivo da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES). 

“Se observarmos os países desenvolvidos, eles retomaram as aulas presenciais no meio do ano de 2020. E o Brasil perdeu todo esse tempo com essa discussão e acabou gerando prejuízos enormes com relação à retomada das atividades presenciais”, ressalta. Caldas explica que movimentos mais efetivos de retomada presencial neste semestre irão variar de região para região - de acordo com as campanhas de imunização e o controle da pandemia nesses locais.

Para Waldemiro Gremski, presidente do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (Crub), um modelo que deve ser assumido por grande parte das instituições é o HyFlex, com no máximo 60% dos alunos em sala de aula e o restante acompanhando remotamente. “Há uma tendência para essa possibilidade. Teremos alunos no presencial e outros no remoto, mas todos assistindo a mesma aula ao mesmo momento. Enquanto a vacinação não for total, será impossível a presencialidade de 100% dos alunos”, afirma. 

Universidades públicas podem demorar mais para aderir ao modelo híbrido
A maioria das universidades públicas resistiu a oferecer ensino remoto e, meses após o lockdown, parte delas ainda não havia disponibilizado nenhum tipo de conteúdo aos alunos. Pouco a pouco, as instituições foram começando a oferecer as aulas remotas; agora o desafio é retomar as atividades no modelo híbrido. A maior parte das instituições públicas ainda não decidiu pelo retorno, mesmo em estados que já autorizaram a volta às aulas presenciais.

Esse é o caso da Universidade de São Paulo (USP). Mesmo após liberação da retomada presencial pelo governo do São Paulo, publicada no Diário Oficial do estado no dia 7 de julho, a maior universidade brasileira decidiu, por ora, manter as aulas remotamente. A exceção são as atividades essencialmente práticas, que têm permissão para ocorrerem nas dependências da universidade. A USP informou, no entanto, que as implicações da decisão do governo estadual sobre a liberação das aulas presenciais serão consideradas em um comunicado futuro.

Da mesma forma, a Universidade Estadual Paulista (Unesp) ainda não tem uma definição sobre a retomada presencial. Em março, a Unesp havia definido o sistema remoto como único modelo de ensino durante todo o ano de 2021. Apesar de manter em aberto a revisão da medida, na ocasião a universidade havia informado que considera ser muito difícil que isso ocorra.

A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que também figura entre as maiores do país, não tem previsão para a volta às aulas presenciais. No plano de cinco fases elaborado para o enfrentamento da Covid-19, a instituição está atualmente na fase três.

“A fase 3, chamada de Ensino Remoto, é a que a UFRJ se encontra atualmente e permanecerá enquanto os riscos de contágio da COVID sejam elevados. Tem como características o ensino remoto na graduação e na pós-graduação; trabalho remoto e trabalho presencial somente em atividades essenciais”, informou a UFRJ à reportagem. De acordo com a instituição, a fase seguinte, que contempla o ensino híbrido, “terá início assim que o risco de contágio for baixo (R abaixo de 1,0) e houver condições da presença segura de alunos, técnicos e docentes”.

Em maio, a reitora da UFRJ, Denise Pires de Carvalho, declarou que a volta às aulas presenciais possivelmente não ocorreria na universidade em 2021 por falta de verba e destacou que havia chances de a maior parte das 68 federais do país fazerem o mesmo.

A Universidade Federal do Paraná (UFPR) afirmou que as atividades presenciais estão ocorrendo em regime emergencial. Para a liberação das atividades práticas emergenciais, o professor da disciplina deve fazer a proposição, que será submetida à avaliação do colegiado de curso e do comitê de biossegurança setorial. Não há, entretanto, previsão de retomada mais abrangente no modelo híbrido.

Já a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) informou à reportagem que a retomada das aulas presenciais de sido feita de forma gradual - de acordo com as autorizações das autoridades sanitárias locais e o plano de retorno aprovado pela instituição. Atualmente, a UFMG registra 11 cursos em atividades presenciais, além de algumas atividades de pesquisa e extensão.

A universidade mineira diz que dará prosseguimento ao planejamento das demais atividades presenciais “assim que houver a devida autorização das autoridades locais, tendo em vista o planejamento da oferta de disciplinas para o segundo semestre de 2021, bem como o impacto na vida da comunidade e da cidade que esse retorno pode ocasionar”.

Por outro lado, a Universidade Federal do Ceará (UFC) definiu o retorno presencial para 27 de setembro. A decisão ocorreu após liberação por parte do governo cearense, no final de junho, para a retomada das aulas presenciais no ensino básico e superior. 

Instituições particulares planejam ampla retomada no segundo semestre
No setor privado, há grande movimentação para a volta às aulas presenciais no modelo híbrido. Boa parte das instituições prevê retorno para o segundo semestre. Para isso, porém, elas ainda dependem de autorização do poder público. 

No dia seguinte ao decreto do governo de São Paulo autorizando a volta às aulas presenciais, o Insper anunciou a retomada in loco para agosto, com limite de 60% da ocupação das salas. O retorno não é obrigatório, e os alunos que preferirem podem optar por se manter no ensino remoto.

A Fundação Getulio Vargas (FGV) também pretende adotar o modelo híbrido no segundo semestre. A retomada será com limite de 50% dos alunos nas salas de aula. Da mesma forma, a FUCAPE Business School, que possui campus em cinco estados, anunciou retorno na modalidade híbrida a partir de agosto.

A Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) também informou à reportagem que no segundo semestre letivo haverá o retorno gradual das atividades presenciais, com a possibilidade de o estudante escolher se deseja ir ou não até a universidade. 

Já a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) não tem previsão de data para retorno em modelo híbrido. A universidade afirma que aguarda o avanço da campanha de vacinação contra a Covid-19 e melhores condições de retorno para todos os alunos. Atualmente, apenas alguns laboratórios das áreas de ciências estão realizando atividades presenciais na instituição.


Conteúdo Relacionado

Notícias

Aulas presenciais voltam a ser obrigatórias para 100% dos alunos em SP a partir de segunda-feira

Atualmente, presença é facultativa. Segundo gestão estadual, na próxima semana, só poderão ficar em casa os estudantes que apresentarem justificativa médica. Sindicado dos professores diz ser contra e afirma que escolas não têm condições de cumprir protocolos

Rio anuncia retorno de 100% dos alunos às aulas presenciais a partir do dia 18

Decisão foi publicada em Diário Oficial nesta sexta-feira (8); as instituições de ensino terão que oferecer a opção do ensino híbrido

'Educação tem que ser a última a fechar e a primeira a abrir'

CBN : Em entrevista, Sólon Caldas, diretor executivo da ABMES, defende a retomada das aulas presenciais

Câmara aprova urgência em projeto de lei que torna educação presencial essencial

Texto causou racha entre secretários de educação. Os que são contra dizem que é uma obrigatoriedade que não considera características locais. Rossieli Soares, de SP, diz que projeto "merece todo o apoio"

MEC terá plataforma para ajudar planejamento da volta às aulas

Painel vai monitorar reinício das atividades no ensino básico

Projeto suspende decisão do MEC sobre retorno das aulas presenciais nas universidades

Portaria prevê início do calendário em março nas instituições de ensino superior