Mindset, execução e inovação: uma agenda estratégica para o ecossistema empreendedor brasileiro

Espaço destinado à atualização periódica de tecnologias nacionais e internacionais que podem impactar o segmento educacional e, portanto, subsidiar gestores das instituições de ensino para que sejam capazes de agir proativamente olhando para essas tendências.

04/12/2025 | 44

Mindset, execução e inovação: uma agenda estratégica para o ecossistema empreendedor brasileiro

*Por: Carmen Tavares

O cenário contemporâneo do empreendedorismo brasileiro apresenta características que, ao mesmo tempo, revelam grande potencial e importantes fragilidades estruturais. Dados recentes do Global Entrepreneurship Monitor (GEM 2024/2025) mostram que o Brasil ocupa posição de destaque na economia empreendedora mundial: cerca de 33,4% da população adulta está envolvida em atividades empreendedoras iniciais ou estabelecidas, com crescimento contínuo nos últimos anos. O país também se destaca pelo contingente expressivo de potenciais empreendedores, somando aproximadamente 47 milhões de brasileiros que desejam abrir um negócio nos próximos três anos, colocando o país entre os líderes globais em intenção empreendedora. Ainda assim, quase metade dos adultos (49%) afirma não empreender por medo de fracassar, evidenciando um paradoxo central: o desejo de empreender cresce, mas a capacidade psicológica de sustentar essa escolha permanece vulnerável, influenciada por fatores socioculturais, educacionais e econômicos.

No campo institucional, universidades públicas e privadas vêm expandindo sua participação nos ecossistemas de inovação, fortalecendo parcerias com governo e iniciativa privada. Parques tecnológicos, incubadoras e centros de inovação vinculados a grandes universidades brasileiras apresentam resultados significativos. O Parque Científico e Tecnológico da Unicamp e sua incubadora, por exemplo, registraram crescimento expressivo, acumulando faturamento superior a R$ 129 milhões em 2024. A UNIFEI conquistou reconhecimento nacional por seu hub de inovação, enquanto ambientes como o SUPERA Parque, em Ribeirão Preto, consolidaram-se como plataformas importantes para estimular negócios de base tecnológica. No âmbito nacional, o país conta hoje com mais de sessenta parques tecnológicos estruturados, segundo dados da Agência Brasil. Esses ambientes oferecem infraestrutura, mentorias, redes de contato e acesso a editais de fomento, compondo um arranjo robusto para apoiar startups em estágio inicial.

Apesar desse avanço, a taxa de conversão entre intenção empreendedora e negócios sustentáveis permanece baixa. A principal explicação não reside apenas na dimensão econômica ou regulatória, mas também em lacunas relacionadas à preparação psicológica dos futuros empreendedores. A literatura aponta que a mera transmissão de conhecimento técnico e de ferramentas de modelagem de negócios não garante persistência, capacidade de lidar com incertezas nem continuidade dos projetos após a conclusão dos programas. É nesse contexto que evidências empíricas recentes, como as apresentadas no estudo sobre intervenções baseadas no uso de forças pessoais, oferecem uma contribuição relevante para repensar a educação empreendedora no Ensino Superior brasileiro.

O estudo analisado investigou uma intervenção breve, de quatro horas, inserida em um programa de formação empreendedora com base em metodologias de lean startup na cidade de Belo Horizonte. A intervenção combinava dois elementos: sensibilização para mentalidade de crescimento e um conjunto estruturado de práticas de identificação e aplicação das forças individuais. Embora a intervenção não tenha alterado significativamente a mentalidade de crescimento dos participantes — possivelmente por esta já se apresentar elevada entre jovens que buscam formação empreendedora — ela produziu efeito consistente no aumento do uso de forças pessoais, efeito esse mantido por pelo menos duas semanas após sua realização. Mais importante, o estudo demonstrou que esse uso ampliado de forças prediz maior aderência ao programa e intenções empreendedoras mais elevadas, convertendo-se, portanto, em uma variável comportamental determinante para o engajamento e para a consolidação da identidade empreendedora.

A transposição dessa evidência para o Ensino Superior brasileiro permite identificar caminhos realistas e de alto impacto para fortalecer a formação empreendedora nas universidades. Primeiramente, o uso estratégico das forças pessoais pode funcionar como mecanismo de redução do medo de fracassar, barreira amplamente documentada entre os brasileiros. Ao aprender a reconhecer seus recursos internos, os estudantes tendem a interpretar as dificuldades inerentes ao processo de validação de ideias não como indicadores de incapacidade, mas como terreno para mobilizar habilidades autênticas. Essa mudança de interpretação é fundamental em contextos de incerteza, nos quais a experimentação, a pivotagem e a reavaliação constante fazem parte do cotidiano.

Além disso, inserir intervenções psicológicas de curta duração no início de disciplinas de empreendedorismo, programas de pré-aceleração e projetos integradores pode elevar significativamente a participação e a permanência dos estudantes ao longo do semestre. A aplicação de instrumentos de mapeamento de forças, associada à elaboração de implementation intentions, ou seja, planos condicionais do tipo if–then planning, permite transformar capacidades individuais em estratégias operacionais para situações como entrevistas com usuários, apresentação a bancas avaliadoras, redesign de protótipos e etapas de negociação. Ao sistematizar tais práticas, as universidades criam ambientes que apoiam a experimentação orientada, reforçam a autonomia e ampliam o envolvimento com o processo formativo. Esses if–then protocols funcionam como gatilhos comportamentais que reduzem hesitação, aumentam a precisão das respostas e estruturam a tomada de decisão dos estudantes diante de incertezas recorrentes.

Outro aspecto relevante diz respeito ao trabalho em equipe. Programas de pré-aceleração e desafios de inovação frequentemente dependem da dinâmica coletiva, e equipes cujos integrantes possuem clareza sobre suas forças tendem a distribuir tarefas de modo mais eficiente, comunicar-se melhor e lidar de forma colaborativa com pressões e prazos. Inserir a identificação coletiva de forças como etapa formal nos programas universitários pode melhorar a coesão, reduzir conflitos e favorecer processos decisórios mais consistentes. Esse alinhamento interno permite, inclusive, que mentorias realizadas por profissionais externos sejam mais produtivas, pois os estudantes conseguem identificar rapidamente qual membro da equipe é mais apto a conduzir determinadas atividades, reorganizando responsabilidades conforme as exigências de cada fase do projeto.

Para as universidades que dispõem de parques tecnológicos e incubadoras, integrar indicadores comportamentais aos sistemas de acompanhamento das startups pode contribuir para uma gestão mais estratégica dos programas. Em vez de analisar apenas métricas de desempenho econômico e técnico, como número de clientes, evolução do faturamento ou maturidade tecnológica, torna-se possível monitorar também dimensões relacionadas ao engajamento dos times, à consistência da participação em mentorias, ao nível de resiliência durante períodos de reorientação do modelo de negócio e à evolução do uso de forças ao longo do ciclo de desenvolvimento. Essas informações podem orientar intervenções mais personalizadas e oferecer evidências concretas para pleitear recursos junto a agências de fomento ou investidores privados interessados em ambientes de inovação de alta qualidade.

Do ponto de vista das políticas públicas, o movimento recente do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e da Finep de ampliar investimentos em parques tecnológicos, com atenção especial às regiões Norte e Nordeste, sinaliza uma oportunidade estratégica. Universidades que estruturarem programas capazes de combinar inovação técnica com desenvolvimento psicológico terão vantagem competitiva na captação de recursos e na formação de parcerias com corporações e fundos de investimento. Ao demonstrar que suas iniciativas produzem não apenas startups, mas empreendedores mais preparados para operar em cenários complexos, essas instituições se posicionam como agentes essenciais na expansão da economia do conhecimento no país.
Assim, ao integrar uma metodologia voltada ao uso consciente das forças pessoais e ao emprego sistemático de implementation intentions, o Ensino Superior brasileiro pode avançar de um modelo predominantemente técnico para uma abordagem baseada em evidências, capaz de fortalecer competências internas necessárias para sustentar trajetórias empreendedoras. Em um país com elevado potencial empreendedor, vasta infraestrutura universitária de inovação e ecossistemas regionais em consolidação, investir no desenvolvimento psicológico dos estudantes não é um complemento, mas um componente central para transformar intenção em realização. A educação empreendedora que considera as forças individuais como ativo estratégico, apoiada por if–then planning e protocolos comportamentais precisos, amplia as chances de continuidade dos projetos, fortalece a resiliência dos empreendedores e contribui para a criação de negócios mais consistentes e inovadores. Dessa forma, universidades se tornam catalisadoras de um processo que combina ciência, comportamento e inovação, alinhado às demandas de um ambiente econômico dinâmico e competitivo.

Nós da ProInnovare estamos disponíveis para auxiliar a sua IES neste processo. Entre em contato com a Profa. MsC em Gestão da Inovação pela UNIFEI, Carmen Tavares, através do e-mail contato@proinnovare.com.br 
Manual completo sobre a metodologia citada no texto no PodCast em www.proinnovare.com.br 

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*Maria Carmen Tavares Christóvão é Mestre em Gestão da Inovação com área de pesquisa em Inovação Educacional. Diretora da Pro Innovare Consultoria de Inovação, atuou como Reitora, Pró Reitora e Diretora de Instituições de Ensino de diversos portes e regiões no Brasil.

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Carmen Tavares

Gestora educacional e de inovação com 28 anos de experiência em instituições de diversos portes e regiões, com considerável bagagem na construção de políticas para cooperação intersetorial, planejamento e gestão no ensino privado tanto na modalidade presencial quanto EAD. Atuou também como executiva em Educação Corporativa e gestora em instituições do Terceiro Setor. É mestre em Gestão da Inovação pela FEI/SP, com área de pesquisa em Capacidades Organizacionais, Sustentabilidade e Marketing. Pós-graduada em Administração de Recursos Humanos e graduada em Pedagogia pela UEMG.

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